16/12/14

Exposição 12x12. Galeria Travessa. Lisboa.










Exposição "A cidade de Lisboa". Museo da cidade. Lisboa.





A cozinha, o lugar onde crio o que comer, o que faz aquilo que sou.
Cores, formas, facas e tábuas, cheiros, sabores, especíarias e tempo. Alquimia para o estômago.
A secretária, uma mesa, o lugar onde construo o que alimenta meu olhar. Pinturas, canetas, marcadores, pigmentos. Alquimia para alimentar a alma.
Como especíarias na cozinha, as minhas canetas, os meus marcadores, fazem parte da minha paisagem quotidiana. Um pouco de vermelho como quem acrescenta pimenta na sopa. Conversa entre cigarros com o mais profundo. Olhar o infinito como se no espaço entre duas canetas se pudesse ver o mar.
Quando na mesa já não há espaço suficiente, deito-me no chão com uma grande folha que pinto e modifico. Deixo-me levar pelas linhas que constroem o espaço onde habito e onde quero ficar. Olho meus pés e vejo estender-me no chão e o chão com todas as suas coisas já faz parte de mim.


Luzes e sombras em baixo da cama, tudo espalhado pelo chão, os cabos eléctricos desenham já, para o meu olhar. Observo nos cantos escondidos como se nalguma sombra fosse possível encontrar um pretexto para poder ficar.
Toco o chão com as maõs tentando reconhecê-lo e tentando que ele me reconhecesse a mim. Será que posso ficar aqui, nesta terra? Abro a minha mala, os materiais caem, todas as minhas coisas espalhadas num grande chão infinito.

















Tive uma janela com vista para o rio. Nunca tinha visto na minha vida um rio tão mar e um mar tão rio. Passava horas a alimentar o olhar com aquela luz. Petrificada na janela, foi a primera vez que pensei que queria ficar nesta cidade. À esquerda, o porto de Lisboa com suas construções geométricas de amáveis linhas a convidar-me a desenhar, e a ficar.

A cidade leva-me para cima e saí de ao pé do rio para morar numa colina. Agora a vista é outra, mas a luz é a mesma. Já não há reflexos da água, mas sim luz sobre os vidros. Um mar de edifícios onde se pode perder num dia branco. Destes brancos que só Lisboa pode mostrar, um branco tão branco, como uma mão cheia de sal, na boca.